Lamentações

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Almeida Revista e Corrigida (Portugal)

Lamentações 3 Almeida Revista e Corrigida (Portugal) (ARCPT)

1. EU sou o homem que viu a aflição pela vara do seu furor.

2. Ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz.

3. Deveras se tornou contra mim; virou, de contínuo, a sua mão todo o dia.

4. Fez envelhecer a minha carne e a minha pele, quebrantou os meus ossos.

5. Edificou contra mim, e me cercou de fel e trabalho.

6. Assentou-me em lugares tenebrosos, como os que estavam mortos há muito.

7. Circunvalou-me, e não posso sair: agravou os meus grilhões.

8. Ainda quando clamo e grito, ele exclui a minha oração.

9. Circunvalou os meus caminhos, com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas.

10. Fez-se-me como urso de emboscada, um leão em esconderijos.

11. Desviou os meus caminhos, e fez-me em pedaços; deixou-me assolado.

12. Armou o seu arco e me pôs como alvo à frecha.

13. Fez entrar nos meus rins as frechas da sua aljava.

14. Fui feito um objeto de escárnio para todo o meu povo, e a sua canção todo o dia.

15. Fartou-me de amargura, saciou-me de absinto.

16. Quebrou, com pedrinhas de areia, os meus dentes; cobriu-me de cinza.

17. E afastaste da paz a minha alma, esqueci-me do bem.

18. Então disse eu: Já pereceu a minha força, como, também, a minha esperança no Senhor.

19. Lembra-te da minha aflição, do meu pranto, do absinto e do fel.

20. Minha alma, certamente, se lembra, e se abate dentro de mim.

21. Disto me recordarei no meu coração; por isso, tenho esperança.

22. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim.

23. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade.

24. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.

25. Bom é o Senhor para os que se atêm a ele, para a alma que o busca.

26. Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor.

27. Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade;

28. Assentar-se solitário, e ficar em silêncio; porquanto Deus o pôs sobre ele.

29. Ponha a sua boca no pó; talvez assim haja esperança.

30. Dê a sua face ao que o fere; farte-se de afronta.

31. Porque o Senhor não rejeitará para sempre.

32. Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão, segundo a grandeza das suas misericórdias.

33. Porque não aflige, nem entristece de bom grado, aos filhos dos homens.

34. Pisar debaixo dos pés a todos os presos da terra,

35. Perverter o direito do homem perante a face do Altíssimo,

36. Subverter o homem no seu pleito, não o veria o Senhor?

37. Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande?

38. Porventura, da boca do Altíssimo não sai o mal e o bem?

39. De que se queixa, pois, o homem vivente? queixe-se cada um dos seus pecados.

40. Esquadrinhemos os nossos caminhos, experimentemo-los, e voltemos para o Senhor.

41. Levantemos os nossos corações com as mãos para Deus nos céus, dizendo:

42. Nós prevaricámos, e fomos rebeldes; por isso, tu não perdoaste.

43. Cobriste-nos de ira, e nos perseguiste; mataste, não perdoaste.

44. Cobriste-te de nuvens, para que não passe a nossa oração.

45. Como cisco e rejeitamento nos puseste no meio dos povos.

46. Todos os nossos inimigos abriram contra nós a sua boca.

47. Temor e cova vieram sobre nós, assolação e quebrantamento.

48. Torrentes de águas derramaram os meus olhos, por causa da destruição da filha do meu povo.

49. Os meus olhos choram, e não cessam, porque não há descanso,

50. Até que o Senhor atente e veja desde os céus.

51. O meu olho move a minha alma, por causa de todas as filhas da minha cidade.

52. Como ave me caçaram os que são meus inimigos sem causa.

53. Arrancaram a minha vida na cova, e lançaram pedras sobre mim.

54. Águas correram sobre a minha cabeça; eu disse: Estou cortado.

55. Invoquei o teu nome, Senhor, desde a mais profunda cova.

56. Ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor.

57. Tu te aproximaste, no dia em que te invoquei: disseste: Não temas.

58. Pleiteaste, Senhor, os pleitos da minha alma, remiste a minha vida.

59. Viste, Senhor, a injustiça que me fizeram; julga a minha causa.

60. Viste toda a sua vingança, todos os seus pensamentos contra mim.

61. Ouviste as suas afrontas, Senhor, todos os seus pensamentos contra mim;

62. Os lábios dos que se levantam contra mim e as suas imaginações contra mim todo o dia.

63. Observa-os, ao assentarem-se e ao levantarem-se; eu sou a sua canção.

64. Tu lhes darás a recompensa, Senhor, conforme a obra das suas mãos.

65. Tu lhes darás ânsia de coração, maldição tua sobre eles.